Os drones, também denominados UAVs ou VANTs, são veículos aéreos não tripulados que nos últimos anos ganharam atenção popular um tanto negativa devido a seu uso em campanhas militares estadunidenses na Ásia. A adoção inicial dessa tecnologia, no entanto, não é tão recente quanto se pode pensar, remetendo ao período entreguerras de 1918 a 1939, quando foi utilizado o Kettering Bug, uma arma que se constituía basicamente de um míssil preso ao corpo de um avião, ainda desprovido de controle remoto.
Com uma série de aprimoramentos gerados pelo progresso técnico, os drones foram utilizados na Guerra do Vietnã e do Yom Kippur, já contando com a possibilidade de controle remoto mas ainda atuando em caráter experimental. Foi na Guerra do Líbano, em 1982, que efetivamente seu uso começou a se consolidar, quando exerceram funções de reconhecimento de terreno que permitiram aos israelenses ter a noção precisa da origem dos mísseis terra-ar libaneses, o que acabou por reduzir as mortes de seus pilotos a zero.
Segundo dados levantados pela BBC em 2012 e confirmados pela revista Wired em 2014, cerca de 1 em cada 3 aviões de guerra estadunidenses operavam sem necessidade de piloto, comprovando o comprometimento de seu exército com essa tecnologia. Com o constante barateamento das peças e processos, diversos atores não-militares começaram a olhar para esses equipamentos como possíveis vetores de inovação, levantando a questão de se seria possível para os drones transcender a esfera da guerra e encontrar usos legítimos na sociedade civil.
Um setor no qual esse tipo de veículo poderia assumir protagonismo no futuro próximo é o de entregas: no caso de pacotes leves, os drones possibilitam um transporte que evita o tráfego urbano e elimina muitos dos riscos associados às ruas e estradas. No início, certamente a atividade seria limitada a áreas específicas, mas é plausível se pensar na expansão desse tipo de serviço para áreas maiores conforme for se confirmando o sucesso das ações menores.
A Amazon se encontra em estágio avançado para colocar em operação seu programa Prime Air, que pretende usar drones para realizar entregas a clientes em até 30 minutos. O serviço será inicialmente ofertado no território dos EUA, Reino Unido e Israel, e a empresa no momento aguarda regulamentações por parte desses Estados que determinem como e em que escala poderá operar. Para citar um exemplo mais inusitado, a marca Domino’s já fez testes bem-sucedidos de entrega de pizzas com drones.
Adendo da revisão de 2018 do artigo: Em dezembro de 2016, a Amazon realizou a primeira entrega por meio do Prime Air em um voo de 13 minutos a partir de um de seus centros de distribuição até a casa de um cliente na cidade de Cambridge, na Inglaterra. Os drones sendo testados estavam configurados para voar abaixo de 120 metros de altitude e conseguem carregar pacotes de um pouco mais do que 2 quilogramas. Nota-se que o percurso escolhido para o teste é quase rural, categorizando uma dificuldade muito menor do que a de um ambiente urbano. Ainda assim, é um avanço substancioso na área.
Outra área na qual os veículos podem assumir maior papel rapidamente é a de resposta a desastres naturais. Já há estudos em curso a respeito de seu uso no combate a incêndios florestais. Dada a natureza altamente imprevisível do fogo, muitas vezes os corpos de bombeiros perdem tempo, recursos, e correm risco de morte por falta de informações em tempo real dos incêndios. Os helicópteros atualmente capazes de tirar fotos em infravermelho de grandes regiões possuem operação considerada cara, sendo despachados com intervalos grandes, circulando uma ou duas vezes por dia. Com os drones, as viagens poderiam ser constantes e cobrir grandes extensões de terra. Eles também poderiam ser usados como roteadores de Internet, permitindo acesso consistente por parte dos bombeiros em serviço, aumentando a eficiência e a segurança de suas ações.
Adendo da revisão de 2018 do artigo: Avanços nesses projetos são contínuos, e foram usados experimentalmente por times mundo afora para facilitar o combate a incêndios florestais. Cientistas da Swedish University of Agricultural Sciences in Umeå testaram os drones Freya na detecção de focos por através da fumaça, com uma autonomia de voo prevista de 1 hora e 40 minutos e capacidade de percorrer 180 hectares de uma só vez. É muito provável que essa tecnologia se torne padrão na próxima década.
Não podemos, no entanto, descartar o mau uso desses equipamentos. Como diria o estudioso Tom Standage, sempre que surge uma nova tecnologia, surgem também maneiras de fazer uso deletério dela. Já foram registradas ocorrências de tráfico de drogas por meio de drones, assim como de espionagem, e existe o temor estatal de seu uso para o transporte de explosivos em atentados terroristas. Em todos esses casos, o trabalho dos criminosos é facilitado graças à diminuição do risco à segurança pessoal, com o risco sendo passado basicamente para o drone.
Existem também problemas de outra natureza. Se o trânsito do espaço terrestre for movido para o aéreo, não demoraria a começar a ocorrer congestionamentos e uma competição por esse espaço nos grandes centros urbanos. Essa preocupação é particularmente válida uma vez considerado que ainda não está provado que os veículos tem a capacidade de, em última instância, se sacrificar de modo seguro em nome de não causar acidentes envolvendo pessoas ou estruturas, respeitando o princípio essencial do privilégio de seres vivos em detrimento de produtos.
Remover o elemento imediatamente humano de uma atividade que não requer estudo formal, como a de motorista de transporte de carga, geraria desemprego para uma demografia vulnerável. Para que a transição ocorresse de um modo socialmente adequado, seria necessária a capacitação em massa dessas pessoas para que pudessem participar de alguma etapa da cadeia de produção e operação dos drones, uma proposta custosa e que não encontraria simpatia nas empresas caso essas não fossem fortemente pressionadas pelo Estado e sindicatos.
No momento não temos como prever com precisão os efeitos a longo prazo do uso desses veículos. Se, por um lado, podemos vislumbrar um futuro no qual os drones conviverão em harmonia com o dia-a-dia cotidiano, realizando tarefas úteis ou perigosas e melhorando a qualidade de vida de todos, por outro também é fácil imaginar seu uso por contraventores, criminosos e governos com intenções de repressão e controle de sua população.
O mais provável é que o futuro guarde espaço para que ambos que ambos os cenários se desenrolem de modo simultâneo, assim como ocorre com os demais avanços que quebram paradigmas. Novas possibilidades trarão riscos previsíveis e imprevisíveis, tornando important que prestemos atenção à regulação e uso dessa tecnologia. Somente acompanhando os próximos movimentos e tendo uma ideia clara de como os drones estão sendo utilizados que poderemos intervir para garantir que sua participação na sociedade seja o mais benéfico possível.