Fundado em 2006 na Islândia, o WikiLeaks opera sob a liderança do hacker e ativista Julian Assange. O website atua como um repositório aberto de documentos sigilosos de governos, empresas, e outros atores políticos considerados relevantes para a comunidade internacional. O WikiLeaks revelou sua real força pela primeira vez em 2010 com a publicação de vídeos e documentos que traziam detalhes sobre as operações do exército estadunidense nas guerras do Iraque e Afeganistão, exibindo uma série de crimes de guerra e falhas de conduta.

Seguindo a publicação de milhões de outros documentos ao longo dos anos, a relevância do website aumentou de tal modo que compeliu Assange Assange a procurar em 2012 asilo político na embaixada do Equador em Londres, local em que desde então habita, com a intenção de se proteger de potenciais pedidos de extradição do governo dos Estados Unidos e subsequentes julgamentos por uma série de crimes que poderiam o levar a receber a pena de morte. De seu quarto na embaixada, o hacker se coordena com colaboradores de todo o mundo para seguir publicando documentos de alto interesse para o público.

Em meio à controvertida campanha eleitoral de 2016, o website começou a publicar documentos ligados ao Partido Democrata e a Hillary Clinton, e somados estes contam uma história paralela dos eventos que cercam sua candidatura presidencial. Talvez a informação mais relevante de todas seja de que dentro do Comitê Nacional Democrata (DNC) havia uma intenção clara de minar a campanha de Bernie Sanders e favorecer a escolha de Hillary como candidata. Perante a mídia, o DNC matinha um discurso de imparcialidade na disputa.

Meses depois, e-mails da conta do administrador da campanha Clinton, John Podesta, foram vazados, revelando ainda mais exemplos de favorecimento. Podemos tomar como exemplo o caso no qual Donna Brazile, líder interina do DNC, enviou um e-mail informando Podesta de uma questão sensível que iria ser perguntada em um debate no período das primárias. Também podemos citar o vazamento de palestras privadas pagas dadas por Clinton para executivos de Wall Street, nos quais a candita demonstra grande intimidade com o grupo. Essas transcrições foram depois utilizadas por Trump tanto no segundo como no terceiro debate como prova de que a candidata teria uma agenda secreta.

A campanha Clinton não necessariamente se focou em desmentir os e-mails, mas sim em apontar uma conspiração por parte da Rússia para eleger Trump. A motivação seria de que ele é um candidato mais fácil de ser manipulado, ou, segundo algumas narrativas, é um parceiro direto de Vladmir Putin. Uma série de empresas de segurança acreditam nessa possibilidade, mas não foram apresentadas evidências definitivas que provem essa possibilidade de modo inquestionável.

Adendo da revisão de 2018 do artigo: Eventualmente ficou provado que existem ligações entre a propaganda da campanha Trump e atores do governo russo. Particularmente voltados para as mídias sociais e com a intenção de parecerem orgânicos, esses anúncios focaram-se em chamar atenção para tópicos conservadores e reforçar a viabilidade de Trump como candidato.

Hillary e Trump foram afetados por informações vazadas pelo WikiLeaks, mas claramente parece haver uma quantidade desproporcional de material sobre a candidata democrata sendo publicado, o que pode ser visto como favoritismo. O mais recente caso conecta a Clinton Foundation a possíveis crimes financeiros, algo embaraçoso mesmo que aparentemente não conectado diretamente com o casal Clinton. Seja como for, essa plataforma claramente veio para mexer com a dinâmica política do mundo contemporâneo, e essa certamente não é a última vez que sua influência será sentida.