Apesar de não ser amplamente difundido na ilha de Cuba o acesso à Internet, muitos de seus cidadãos há anos interagem com conteúdo internacional por meio do “el paquete semanal” (trad.: “o pacote semanal”). Essa coleção de notícias, revistas, músicas, episódios de seriados, novelas brasileiras, animações japonesas, e até mesmo de anúncios, é entregue nas casas de seus assinantes dentro de um dispositivo externo de gravação por um preço que pode variar de 1 a 10 dólares. Uma vez em posse dos arquivos, os compradores podem por sua vez cobrar um preço reduzido para passá-los para vizinhos e familiares ou compartilhar o conteúdo gratuitamente, criando algo como uma Internet offline.

Um dos países com menor índice de conectividade do mundo, Cuba conta com uma parcela ínfima de sua população, estimada na casa dos 10%, com acesso a alguma forma de Internet que além de tudo é censurada pelo governo. Conexões a partir de residências são quase inexistentes, e a velocidade média de acesso disponível é equivalente à que o Brasil possuía na década de 1990. Apenas hotéis de luxo e pontos de acesso de alto custo possuem linhas rápidas como as que imaginamos como definidoras da Internet no século vinte e um.

Com a gradual aproximação de Obama ao país e com a morte de Fidel Castro, mudanças em certos setores da ilha já eram esperadas, particularmente no que é relativo à tecnologia, e os primeiros efeitos – ironicamente talvez os últimos caso Trump mude drasticamente a política externa estadunidense – já começam a ser sentidos. No dia 12 de dezembro de 2016, a Google fechou um acordo com a monopolista estatal das telecomunicações, a Etecsa, e combinou a instalação de servidores da empresa no país.

Enquanto inicialmente o movimento pode parecer de interesse para os cidadãos cubanos, não há qualquer tipo de provisão para a expansão do acesso à rede. Esses servidores servirão para aumentar a velocidade e diminuir a latência nessa região em relação a produtos da Google, como o Gmail ou o Youtube, mas de modo geral o estado da Internet não deve ser afetado para muito além da possibilidade de melhor visualização de um vídeo por parte de uma parcela da população já privilegiada com tecnologia de ingresso à Internet.

Por certo, esse não é o limite das ambições da empresa em território cubano. Poderíamos entender essa como uma primeira incursão, visando estabelecer território antes da concorrência, de modo que assim que o governo sinalizar interesse na expansão de sua infraestrutura de telecomunicações, a Google já está em posição ótima para fazer o trabalho.

De qualquer maneira, esse é um passo expressivo nas relações interamericanas, e aponta para a ideia de que a política externa de Obama efetivamente está conseguindo gerar repercussões na ilha com a qual os EUA possuem problemas há diversas décadas. Resta saber se Trump, autoproclamado “homem de negócios”, vai saber se aproveitar dessa nova perspectiva, em despeito da pressão que sofreria de sua base de apoio.